O nosferatu
Nigel sabia que essa era sua última chance de eliminar seu alvo. Duas
tentativas frustradas o fizeram odiar ainda mais a pequena toreadora. Seus
contatos afirmavam que ela era uma espiã realizando um reconhecimento de área. Eles
também afirmavam que ela era inexperiente. E isso o deixava ainda mais puto.
- Essa
putinha não pode escapar, vocês estão entendendo?
- Calma aí
monstrão... das outras duas vezes você não estava com os Bonnano te ajudando.
- Espero que
valha a pena me juntar com pústulas como vocês.
- Opa, opa,
monstrengo. Nós é que precisamos saber se vai valer a pena arriscar os nossos
rabos pra ajudar sua organização.
- Já disse
que isso não será tratado por telefone. Me encontro com você depois de tudo
terminado.
- Ok então.
Agora vamos desligar esse telefone porque não estamos ao seu dispor a noite
toda.
Nigel
desligou sem responder. Era uma vergonha ter que apelar para suas conexões com
a máfia, e o pior era ficar “devendo favores”. Mas isso iria valer a pena. Sua
reputação e sua “pele” seriam salvas hoje.
MarianaGilbert andava pelas ruas de Buffalo com uma sensação dividida. Por um lado
estava bem contente com sua missão até agora. Mapeando a atividade sabbat na
cidade outrora controlada pela Camarilla. Ela recebera essa missão após 3 anos
de “trabalho de escritório”. “Até que enfim sinto o vento no rosto.” Mas por
outro lado, havia angustia em seu pequeno esboço de sorriso. Após 2 semanas de
missão ela foi descoberta e atacada. Por duas vezes conseguira se livrar por
pouco, graças aos auspícios que começara a desenvolver pouco antes de ir a
campo. Era seu último dia na cidade e não poderia sair sem antes visitar o
atelier do novo nome da pintura local. Apenas uma visita rápida, uma taça de
vinho e uns 2 ou 3 quadros comprados. Não iria atrapalhar em nada...
O plano de
Nigel fora bem esquematizado. A pobre toreadora estava em maus lençóis, visto
que a área era toda conhecida pelo nosferatu. Caminhando por cima das marquises
sem ser notado com o auxílio de sua ofuscação, ele esperou que sua presa
entrasse na Green Park Street e deu início ao bote. Avaliou toda a extensão da
via até um ponto específico, importante em seu plano. Pousando levemente por
trás dela, tendo como ajuda a pouca experiência da novata ele não resistiu e
fez um comentário com base na cor da capa que Mariana usava:
- Não tem
medo do lobo mau, chapeuzinho?
Disse isso
já partindo pra cima dela com um soco diretamente no ouvido esquerdo. A
toreadora foi atingida em cheio e perdeu parte dos sentidos ao se chocar com
uma parede de tijolos. Logo depois veio uma joelhada no abdome que a fez cair.
Nigel chegou a crer que não precisaria nem de seus contatos quando viu Mariana
estatelada no chão. Porém quando pensou, improvisando, em como poria fim
naquilo tudo, num piscar de olhos ela sumiu. Ele levantou o olhar com a boca
levemente aberta e alcançou a figura vermelha de Mariana fugindo uns 20 metros
a sua frente. “Dessa vez não, vagabunda...”
Mariana
usara sua rapidez para escapar de um fim certo, porém não poderia dispor muito
tempo mais de sua disciplina. Estava bem ferida e desorientada e seus sapatos
já tinham ficado para trás. Talvez pela confusão do soco no crânio ela
esquecera momentaneamente do mapa das ruas e se viu desesperada. Sentiu algo
escorrer e, pondo a mão em sua orelha, atestou que era sangue saindo de seu
ouvido. “Calma garota... você já fugiu desse merda duas vezes. Basta se lembrar
do treinamento...”
Olhou para
trás e viu que o seu perseguidor havia encurtado a distância em 10 metros.
Podia ouvir as botas do nosferatu espatifando as poças de água da chuva. “Vamos
lá... vamos lá... as próximas duas ruas são sem saída... MERDA! Pensa Mariana,
pensa! Sim! Claro, merda... a Travessa Monroe. Ela leva até o outro lado do
quarteirão. Se eu conseguir disparar só mais uma vez eu chego até o meio da
travessa sem contato visual com ele e depois consigo escapar pela entrada do
metrô na Cambridge Avenue.”
Mariana
apertou o passo e utilizou seus últimos recursos para utilizar sua rapidez uma
última vez. Sem saber, fez exatamente o que Nigel previa. Enquanto ela se
distanciava com sua velocidade anormal Nigel pegou o telefone e apertou o
redial. Esperou 2 segundos e desligou. Era o sinal que Alberto e seus capangas
precisavam. Continuou correndo e perseguindo sua vítima.
A toreadora
se sentiu quase aliviada quando, na metade da travessa pode ver as luzes da via
principal no final do caminho. Olhou pra trás e não viu Nigel. Estava exausta e
ferida, porém se chegasse até a Cambridge Avenue conseguiria despistar o
nosferatu. “Vou escapar dessa... TENHO que concluir a missão...” Seus pés já descalços
eram talhados pelo chão de paralelepípedos mas ela focava seu olhar nas luzes
no fim da travessa. Olhando uma última vez para traz ela viu Nigel aparecendo calmamente
no início do caminho, sem correr. Não entendeu a tranquilidade de seu
perseguidor. Por um segundo ela pensou identificar um leve sorriso no canto da
boca deformada dele. Um calafrio percorreu seu corpo quando percebeu que as
luzes que vinham da Cambridge Avenue haviam sido obstruídas por alguma coisa
grande...
Enquanto
voltava seus olhos novamente para frente viu um furgão azul marinho parado,
obstruindo a passagem. Seu semblante era uma mistura de cansaço e derrota e,
enquanto a porta do furgão deslizava, ela entendeu que não tinha mais o que ser
feito.
Deu mais
três passos largos meio que em câmera lenta e seu rosto, outrora mesclado à
sombra da viela, agora era iluminado por 4 canos de sub-metralhadoras que
cuspiam chumbo fervendo. Enquanto seu corpo chacoalhava pelas saraivadas, pensou
em seus superiores, pensou em como se sentiu feliz ao ser escolhida finalmente
para sua primeira missão de campo. E pensou no momento de seu abraço sombrio e
como foi difícil se adaptar a seu estado de “aberração”. “Terá sido tudo um
sonho?” As metralhadoras cessaram e primeiramente a vampira caiu de joelhos na
poça de seu próprio sangue e depois tombou para frente já praticamente inerte. Ainda
conseguiu identificar os passos do nosferatu em um trote rápido se aproximando
dela.
Nigel não
queria demonstrar sua euforia nervosa ao se aproximar do corpo de Mariana.
Chegou perto e apoiou um dos pés nas costas perfuradas e ensanguentadas. Porém
de repente um ar maníaco atingiu seu rosto e ele começou a pisar na parte de
trás da cabeça da toreadora violentamente. Nenhum som era emitido pela boca do
nosferatu enquanto ele esmigalhava o crânio de sua presa de forma brutal. O sangue
espirrava. Seu coturno e sua calça de couro preta foram ficando ensopados e
quando não restava nada mais do que um purê vermelho e um corpo sem a cabeça,
ele parou.
Levantou o
olhar lentamente em direção ao furgão. Seu rosto pálido, seu sorriso
horripilante e os respingos de sangue no seu queixo formavam uma visão
inesquecível.
- O Alberto
não estava brincando. Você é realmente um desgraçado louco e feio pra cacete
cara...
- Fala pra
ele... que eu estarei lá... amanhã às dez. Disse Nigel voltando a si de forma
gradativa.
- Pode
deixar. Agora some logo com isso pra gente poder ir embora cara... Falou o
motorista com cara de nojo, enquanto a porta do furgão se fechava.
Nigel abriu
um bueiro próximo e jogou o corpo lá dentro. Entrou ele também na abertura para
os esgotos e enquanto colocava a tampa por cima de sua cabeça viu o furgão
disparar cantando pneus e pensou “Nada como lavar sua honra e reputação com
sangue toreador...”
Bom pessoal.
Uma historinha de minha autoria pra explicar rpgisticamente essa carta. Críticas
são sempre bem vindas! Mas não liguem para os erros de ambientação e regra do
jogo. Não sou um expert. Acho que ficou legal. Descartando e... seguiu!
Muito boa.
ResponderExcluirPorra!!! Muito bacana se garantiu
ResponderExcluir